Olá, tudo bem?
*Antes de começar preciso dizer que cada autista tem suas próprias dificuldades e habilidades. Nenhum autista é igual ao outro. O que é difícil para mim pode ser fácil para você assim como o que pode ser fácil para mim pode ser difícil pra você. Portanto é importante não haver comparações entre autistas. O seu processo pode ser diferente do meu. Cada um tem sua própria trilhas, mas o que quero dizer é que, mesmo tão diferentes entre nós, todos somos capazes!
Creio que um dos principais problemas enfrentados pelos autistas (principalmente para os não-diagnosticados) é a disfunção executiva.
Mas primeiramente vamos esclarecer o que é função executiva.
Função executiva é a capacidade de realizar atividades necessárias no dia a dia. Ela envolve memória, flexibilidade de pensamento e autocontrole, segundo a Neuroconecta.
Planejar tarefas e executá-las, controlar o emocional, tudo isso faz parte do processo. E quando há uma falha chamamos de disfunção executiva.
Tarefas como limpar a casa, lavar louça, arrumar o quarto podem se tornar muito mais complicadas para alguns autistas. Até se consegue planejar, mas se perde no meio do planejamento e não consegue executar. É um inferno na vida do neurodivergente. Até porque muitas vezes ele é confundido como uma pessoa preguiçosa, sem iniciativa e lerdo. Quando na verdade não é nada disso e sim uma falha na estrutura do córtex pré-frontal do cérebro.
Antes do diagnóstico eu achava que estava iniciando Alzheimer. Porque do nada, meus óculos apareciam em lugares onde eu supostamente não fui, eu esquecia instruções dada por outras pessoas minutos depois de ouvi-las, deixava panela no fogo e garrafa de água transbordando no filtro. Esquecia de pagar boletos e me dava branco quando ia no Google pesquisar por algo.
É aterrorizador para quem não sabe o que está acontecendo. Nós perdemos a noção do tempo e as instruções planejadas se embaralham com facilidade além de perder o controle da sequência. Apesar do autista conseguir se manter hiperfocado em algo, alguns se distraem se houverem outros pequenos estímulos no ambiente como uma tv ligada, a interrupção de outra pessoa falando, latido de cachorro ou arranque de moto. É muito difícil voltar para o foco. Eu não sei se isso tem ou não a participação de alguma outra comorbidade como TDAH.
Estudar e manter a sequência e organização dos estudos também é outro desafio. Apesar de muitos autistas serem apaixonados por estudos (como eu), querem abraçar o mundo e não conseguem sequenciar matérias e aprendizados. Entregar trabalhos no prazo é bem complicado.
No trabalho a mesma coisa. Alguns assumem muitos papéis e não conseguem dar conta. Problemas em tomar iniciativas, decisões atrapalham muito a autoestima do autista dentro do ambiente empresarial.
E diferentemente dos neurotípicos que devem pensar: "Ah, mas isso também acontece comigo!", não é nem de longe uma experiência semelhante. Pois tudo isso que relatei pode acontecer no mesmo dia e no mesmo instante. Não é uma falha qualquer. Não é em um dia qualquer. Isso pode acontecer TODOS OS DIAS.
E aos poucos a pessoa vai se sentindo desvalorizada, pelo fato dos outros olhares de forma preconceituosa, achando que é irresponsabilidade ou preguiça. Isso tudo causa mais sobrecarga e stress, acarretando muitas vezes em crises como meltdown ou shutdown.
É por isso que existe a grande importância de buscar o diagnóstico, para que se direcione às terapias mais adequadas e se for o caso, medicamentos corretos para melhorar a qualidade de vida de quem possui grande déficit das funções executivas como é o caso dos neurodivergentes. E o fato de saber qual é a sua limitação e explicar o porquê acaba melhorando a sua autoestima perante a todos os que não o entendem e o criticam.
Uma dica que uso muito é se aproveitar das tecnologias que estão à nossa disposição. Uso alarmes sonoros e vibrantes para me lembrar de alguma tarefa, post-its ajudam a identificar coisas dentro de algo como gavetas, caixas, armários e uso o bloco de notas para fazer lista de afazeres. É claro que não funciona 100% mas é uma ajudinha!
Não se cale, exija respeito!
Até mais!
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